Wednesday, November 17, 2010

Ilustrando o Papel das Línguas Originais da Bíblia: Hebraico

Ilustrando o Papel das Línguas Originais da Bíblia (I): Hebraico

A palavra אֱלֹהִים sempre significa Deus em todas as instâncias em que ocorre no Antigo Testamento?

Texto Estudo de Caso:
Livro dos Salmos, capítulo 82 ספר תהילים פרק פב - 
Tradução e Análise do Prof. Fabiano Ferreira
פרק פב  Capítulo 82

  מִזְמוֹר לְאָסָף 1
  Um Cântico de Asafe
    אֱלֹהִים נִצָּב בַּעֲדַת־אֵל 
Elohim assiste na congregação divina (de Deus),    
    :בְּקֶרֶב אֱלֹהִים יִשְׁפֹּט
No meio dos juízes (deuses) julgará.    
2  עַד־מָתַי תִּשְׁפְּטוּ־עָוֶל 
“Até quando vocês julgarão injustamente (ilegalmente)    
    :וּפְנֵי רְשָׁעִים תִּשְׂאוּ־סֶלָה
e favorecerão a presença dos perversos (Selah)?    
3  שִׁפְטוּ־דָל וְיָתוֹם
Julguem honestamente o necessitado e o órfão     
    :עָנִי וָרָשׁ הַצְדִּיקוּ
 procedam justamente para com o pobre e o empobrecido.   
4  פַּלְּטוּ־דַל וְאֶבְיוֹן
Resgatem o necessitado e o destituído,     
    :מִיַּד רְשָׁעִים הַצִּילוּ
libertem-nos da mão do perverso.”    
5  לֹא יָדְעוּ ׀ וְלֹא יָבִינוּ בַּחֲשֵׁכָה יִתְהַלָּכוּ
“Eles não sabem e eles não entendem, na escuridão caminham,   
    :יִמּוֹטוּ כָּל־מוֹסְדֵי אָרֶץ
entram em colapso todos os fundamentos da terra.    
6  אֲנִי אָמַרְתִּי אֱלֹהִים אַתֶּם
Eu disse: Vocês são deuses,    
    :וּבְנֵי עֶלְיוֹן כֻּלְּכֶם
e filhos do Altíssimo são todos vocês.    
7   אָכֵן כְּאָדָם תְּמוּתוּן
Mas como homens vocês morrerão     
    :וּכְאַחַד הַשָּׂרִים תִּפֹּלוּ
e como um dos príncipes, cairão.”    
8  קוּמָה אֱלֹהִים שָׁפְטָה הָאָרֶץ 
Levanta-te, ó Deus, julga a terra.    
    :כִּי־אַתָּה תִנְחַל בְּכָל־הַגּוֹיִם
Pois Tu repartirás a herança entre todas as nações.   


Versão Atualizada

1 Deus assiste na congregação divina; no meio dos deuses, estabelece o seu julgamento.   
2 Até quando julgareis injustamente e tomareis partido pela causa dos ímpios?   3 Fazei justiça ao fraco e ao órfão, procedei retamente para com o aflito e o desamparado. 4 Socorrei o fraco e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios.   
5 Eles nada sabem, nem entendem; vagueiam em trevas; vacilam todos os fundamentos da terra.   
6 Eu disse: sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo. 7 Todavia, como homens, morrereis e, como qualquer dos príncipes, haveis de sucumbir.   
8 Levanta-te, ó Deus, julga a terra, pois a ti compete a herança de todas as nações. (Salmos 82.1-8 RA)

I) INTODUÇÃO

Nosso objetivo com este breve comentário do Salmo 82 é demonstrar como o conhecimento do hebraico pode permitir-nos deslindar o sentido de um texto que, em si mesmo, parece ocultar nuanças semânticas indecifráveis. Aliás, é temerária a interpretação de um texto como este apenas com base na comparação de versões, como infelizmente o faz a maior parte do povo de Deus hoje. Por não ser muito enfatizado hoje em dia, o estudo do hebraico, do aramaico e do grego koiné é relegado a um plano secundário, de modo que muitos pensam que o conhecimento profundo dessas línguas não seja relevante aos estudos bíblicos. Com pesar, dizemos que até mesmo em muitas academias protestantes ou evangélicas o estudo das línguas originais da Bíblia é desprezado, de maneira que não se percebe com clareza sua importância na vida daqueles que pretendem interpretar a Palavra de Deus. Assim , nosso propósito nesta breve exposição é demonstrar como o conhecimento da língua original pode nos levar à compreensão exata deste texto aparentemente complexo.
Começamos com a observação de que a consideração do lugar vivencial do texto (do Sitz im Leben), do contexto linguístico e histórico, lança enorme luz sobre a tarefa de interpretação. Portanto, primeiramente, nos deteremos no autor, em seu estilo e sua época, em seguida, na intencionalidade comunicativa subjacente à produção do salmo.
Neste salmo, Asafe, o poeta-profeta da velha aliança, contempla como Deus, reprovando, corrigindo e ameaçando, aparece contra os chefes da congregação de Seu povo, os quais têm pervertido em tirania o esplendor da majestade que Deus havia feito repousar sobre eles. Esta é uma característica predominante na abordagem asafeana (veja Salmos 50, 75 e 81): mergulhar na contemplação do julgamento divino e apresentar Deus falando. Discernir o papel das vozes nos Salmos às vezes se torna chave para entender a macroestrutura de um Salmo específico.  Asafe revisa as responsabilidades daqueles que são investidos por Deus como seus representantes, como agentes representativos da capacidade jurídica divina e traz-lhes à memória o fato de eles falharem no exercício de suas atividades, prejudicando os desfavorecidos e favorecendo os perversos, o que provocará com certeza o julgamento divino. A sentença será severa e implacável sobre toda a injustiça, a menos que haja arrependimento e mudança de atitude. Esta leitura de Asafe permite-nos avaliar a seriedade de vivermos perante um Deus justo em meio a um mundo tão injusto, sem transigirmos com qualquer espécie de injustiça em qualquer setor de nossa vida. Os juízes, em primeiro plano, e depois os líderes do povo de Deus de um modo geral estão focalizados neste salmo. Isto serve como vetor orientador de nossa análise e levará, por fim, a alguns apontamentos homiléticos.

II) A REUNIÃO DA ASSEMBLÉIA CELESTE 

Versículo 1 Deus assiste na congregação divina; no meio dos deuses, estabelece o seu julgamento.  

Em primeiro lugar, convém-nos ressaltar que, sem o conhecimento do hebraico, jamais perceberíamos que textos são evocados aqui por Asafe. O estabelecimento de uma intertextualidade seria impraticável se não conhecêssemos o hebraico. Eis aqui a primeira argumentação em favor do conhecimento das línguas originais da Bíblia pelo intérprete que realmente queira exegetar a Palavra de Deus.  

    Conforme encontramos em Ex 21.6 e em 22.7, a corte de julgamento é chamada de Elohim (אֱלֹהִים-Deus), uma vez que os juízes eram investidos com a autoridade divina para julgar, eram os representantes da capacidade jurídica de Deus. Aqui estão os textos com as marcas necessárias para a identificação e ratificação do que afirmamos:

ו וְהִגִּישׁוֹ אֲדֹנָיו אֶל־הָאֱלֹהִים וְהִגִּישׁוֹ אֶל־הַדֶּלֶת אוֹ אֶל־הַמְּזוּזָה וְרָצַע
:אֲדֹנָיו אֶת־אָזְנוֹ בַּמַּרְצֵעַ וַעֲבָדוֹ לְעֹלָם
   
21.6 Então, o seu senhor o levará aos juízes (אֶל־הָאֱלֹהִים - el-haElohim) e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre. (Êxodo 21.6 RA)

ז אִם־לֹא יִמָּצֵא הַגַּנָּב וְנִקְרַב בַּעַל־הַבַּיִת אֶל־הָאֱלֹהִים אִם־לֹא שָׁלַח
:יָדוֹ בִּמְלֶאכֶת רֵעֵהוּ

22.8    Se o ladrão não for achado, então, o dono da casa será levado perante os juízes (אֶל־הָאֱלֹהִים - el-haElohim), a ver se não meteu a mão nos bens do próximo. (Êxodo 22.8 RA)

Portanto, a idéia central  do  versículo 1  é que  Deus  está  atento  às  ações dos juízes e, por extensão, dos líderes de seu povo, uma vez que eles estão investidos de autoridade divina, sendo, portanto, os representantes da capacidade jurídica de Deus que, acima deles, é o Juiz dos Juízes.


III) ADVERTÊNCIA AOS MAGISTRADOS

Versículo 2 “Até quando julgareis injustamente e tomareis partido pela causa dos ímpios?”  

Vemos aqui uma denúncia aberta das irregularidades no julgamento: injustiça para os fracos e desprotegidos e favorecimento indevido dos perversos. Estas atitudes eram claros indícios de afastamento do padrão de justiça da Lei de Deus. O afastamento da Lei, por decisão voluntária, levava os juízes a se portarem de um modo leviano na presença de Deus, a quem eles representavam. Esta denúncia é semelhante aos oráculos dos profetas do AT, que sempre eram usados por Deus para denunciar toda espécie de injustiça e chamar o povo ao arrependimento. O alvo número um dos profetas eram os líderes (cf. Os 4.1-10; Is 10.1-4).


IV) DEVERES DOS JUÍZES

Versículos  3 e 4: Nestes versículos, Asafe relembra os deveres dos juízes: 

3 Fazei justiça ao fraco e ao órfão, procedei retamente para com o aflito e o desamparado.   
4 Socorrei o fraco e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios.”


Versículo 5 “Eles nada sabem, nem entendem; vagueiam em trevas; vacilam todos os fundamentos da terra.”

Este verso tem a aparência de um solilóquio, de um monólogo. Muitos juízes são inconscientes de sua responsabilidade estupenda. Ser representante de Deus, a ponto de serem chamados de Elohim (אֱלֹהִים), deuses, é uma responsabilidade aterradora! Contudo, vale ressaltar aqui que não há nada neste salmo que favoreça uma visão panteísta.

... vacilam todos os fundamentos da terra - expressão metafórica que alude aos mandamentos que os juízes transgridem, são os preceitos divinos sobre os quais devem repousar todos os relacionamentos humanos e que (na economia em que vivia o poeta-profeta) estão   regulamentados  na  Torah (Lei de Deus). A Torah deveria ser o firme fundamento para o justo julgamento dos juízes. Convém lembrar neste ponto o sábio conselho de Jetro, o sogro de Moisés:

Ex 18.21:  Procura dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez; (Êxodo 18.21 RA)

A qualificação moral e espiritual deveria e deve ser o primeiro requisito para quem exerce função de liderança do povo de Deus, para a própria felicidade tanto do líder quanto dos liderados. À guisa de intertextualidade, lembremos do conselho do apóstolo Paulo a Timóteo, 1Tm 4.16: 

“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.”


V) O CARÁTER DIVINO DA FUNÇÃO DE MAGISTRADO E SUA RESPONSABILIDADE DIANTE DA SUPREMA CORTE CELESTE

Versículo  6:  “Eu disse: sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo.”

Os juízes são Elohim, deuses, mas não podem permitir-se o autogoverno. Há um Mais Alto, Elyon (עֶלְיוֹן), perante quem, como filhos e representantes, eles são  responsáveis. Não há nada de panteísmo neste versículo, algo como aquela idéia de somos deuses em miniatura ou coisa semelhante. A ênfase aqui é que, com base no contexto linguístico imediato, os juízes estão investidos com a capacidade jurídica de Deus e são seus representantes, por isso são chamados de Elohim (deuses). Eles continuam homens, porém, estão investidos pelo próprio Deus com a autoridade de julgar e fazer justiça de acordo com a Lei de Deus, refletindo assim o seu justo caráter perante o povo de Deus. 
Por certo, o melhor comentário deste versículo, além do que já dissemos, é João 10.34-36, que diz: “34 Replicou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses?   35 Se ele chamou deuses àqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus, e a Escritura não pode falhar,   36 então, daquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, dizeis: Tu blasfemas; porque declarei: sou Filho de Deus?” (João 10.34-36 RA). Há aqui uma referência explícita a este versículo 6 do Salmo 82, que ora comentamos e não à Lei. Será que Jesus havia se equivocado ao dizer que aqueles a quem foi dirigida a palavra divina, investindo-os de autoridade, são chamados na Lei de deuses? Se não conhecêssemos o texto do AT em hebraico, jamais descobriríamos que a corte de julgamento e os juízes são chamados de Elohim no AT. Jesus tinha plena consciência disso, mas quem não sabe hebraico ou não possui um bom comentário, escrito por exegeta que domina essa língua e conhece as referências que citamos a princípio, poderia até supor que Jesus estivesse equivocado. Porém, de um modo indireto, a Lei é citada neste Salmo 82, pois os juízes são chamados de Elohim (אֱלֹהִ֔ים-deuses), em Ex 21.6 e em 22.7. É bom lembrar que, na maior parte das vezes, toda a contradição aparente que alguém ouse afirmar se encontra na Bíblia sempre deriva do fato de seu conhecimento ser limitado em relação à Escritura. Este fato que acabamos de citar poderia levar o indouto a dizer que Jesus fizera uma citação errônea. Seus interlocutores, contudo, que conheciam profundamente a Lei em hebraico, não o replicaram, pois sabiam do que ele estava falando.
 Cumpre-nos ressaltar que a expressão idiomática hebraica (בֶּן־הָאֱלֹהִים - Ben-haElohim), filho de Deus, significava, para os judeus, que Jesus estava repleto de todas as características do próprio Deus, revestindo sua natureza, poder e atributos. Seria uma reinvindicação de identidade essencial absoluta. Na concepção judaica, ser filho de é uma expressão idiomática que significa possuir todos os atributos daquilo ou daquele de quem alguém é filho. Daí percebermos porque aqueles homens o acusavam de blasfêmia.


VI) O JULGAMENTO DOS JUÍZES NA SUPREMA CORTE CELESTE

Versículo 7: Todavia, como homens, morrereis e, como qualquer dos príncipes, haveis de sucumbir.   

Eis aí a sentença sobre os juízes injustos.


VII) PRENÚNCIO PROFÉTICO DO JUÍZO DIVINO NA PERSPECTIVA DO "JÁ" E DO "AINDA NÃO"

Versículo 8: Levanta-te, ó Deus, julga a terra, pois a ti compete a herança de todas as nações. (Salmos 82.1-8 RA)

Aqui está expresso o anseio do poeta por justiça. Só Deus tem a prerrogativa de julgar o mundo com justiça. Seus representantes quase sempre deixam a desejar. Contudo, baseados em outro estágio mais avançado da revelação progressiva de Deus em sua Palavra, num período bem posterior a Asafe, nós hoje já podemos descansar na certeza de que Deus já tem estabelecido esse dia de julgamento pelo qual o poeta-profeta anelava.


VIII) CONCLUSÃO

Concluindo, vimos com foi importante o conhecimento do hebraico para interpretarmos corretamente este Salmo, escrito originalmente em hebraico. Que este pequeno artigo possa despertar em você o desejo de dar um primeiro passo para começar a trilhar esse caminho reservado aos eruditos: o conhecimento das línguas originais da Bíblia. Espero ter contribuído, de algum modo, para começar a demitificar a tão propagada impenetrabilidade nas línguas originais da Bíblia e demonstrar a insofismável importância do conhecimento delas como ferramenta na difícil tarefa da exegese bíblica. 


Prof. Fabiano Ferreira

Saturday, November 13, 2010

Gênesis 1 (720p HD) em Hebraico lido pelo Prof. Fabiano Ferreira


Gênesis 1 em Hebraico, Prof. Fabiano Ferreira 720p HD from FABIANO FERREIRA on Vimeo.


Versão 720p HD


Aqui está o capítulo 1 de Gênesis lido pelo Prof. Fabiano Ferreira com exclusividade para a Comunidade Hebraico, Aramaico e Grego do Orkut. Nossa proposta é produzir muitos vídeos para ensino de hebraico, primeiramente, e quiça possamos dedicar alguns vídeos ao aramaico e ao grego. A leitura de Gênesis 1 em hebraico ajudará o aluno alfabetizado a consolidar os princípios fundamentais da prosódia hebraica. O segredo da leitura é identificar com clareza os limites da sílaba, de modo que se possa ler com confiança. Começarei com o alfabeto e tentaremos fazer uma longa peregrinação passando pela morfologia, sintaxe e chegando ao clímax com a Análise de Discurso aplicada ao hebraico bíblico.



Este vídeo é só para mostrar o que está por vir. Foram umas 14 horas de trabalho, mas valeu a pena. Creio que, após esta matriz, os outros serão produzidos com maior facilidade, pois os parâmetros já estão estabelecidos.

Gênesis 1 (1080p HD) em Hebraico lido pelo Prof. Fabiano Ferreira




Gênesis 1 em Hebraico from FABIANO FERREIRA on Vimeo.


Versão 1080p HD


Aqui está o capítulo 1 de Gênesis lido pelo Prof. Fabiano Ferreira com exclusividade para a Comunidade Hebraico, Aramaico e Grego do Orkut. Nossa proposta é produzir muitos vídeos para ensino de hebraico, primeiramente, e quiça possamos dedicar alguns vídeos ao aramaico e ao grego. A leitura de Gênesis 1 em hebraico ajudará o aluno alfabetizado a consolidar os princípios fundamentais da prosódia hebraica. O segredo da leitura é identificar com clareza os limites da sílaba, de modo que se possa ler com confiança. Começarei com o alfabeto e tentaremos fazer uma longa peregrinação passando pela morfologia, sintaxe e chegando ao clímax com a Análise de Discurso aplicada ao hebraico bíblico.


Este vídeo é só para mostrar o que está por vir. Foram umas 14 horas de trabalho, mas valeu a pena. Creio que, após esta matriz, os outros serão produzidos com maior facilidade, pois os parâmetros já estão estabelecidos.



Prof. Fabiano Ferreira

Friday, November 12, 2010

Salmo 23 (Hebraico): A Confiança no Fiel Pastor e Hospedeiro Inigualável

Salmo 23 (Hebraico): A Confiança no Fiel Pastor e Hospedeiro Inigualável
Pr. Fabiano Ferreira



Salmo 23 (Hebraico): A Confiança no Fiel Pastor e Hospedeiro Inigualável from FABIANO FERREIRA on Vimeo.


Nesta mensagem, o Pr. Fabiano Ferreira penetra nas dimensões mais profundas da poesia hebraica do Salmo 23, indo buscar mediante sólida exegese uma transposição relevante para os nossos dias.
Além de descortinar toda a beleza do texto hebraico com seu colorido poético, o contexto vivencial do salmista é reconstituído de tal modo que sua linguagem densamente idiossincrática permita ao ouvinte perceber a profundidade teológica de suas metáforas e, ao mesmo tempo, as magníficas bênçãos colocadas à nossa disposição pelo Pastor-Senhor do salmo. Como não poderia faltar, um insight especial é mostrado na transição da imagística deste Salmo do ambiente bucólico, pastoril, para o cenário de hospedagem de honra, quando o hóspede recebe um tratamento inigualável pelo Hospedeiro. Tal visão abençoadora deriva de quem faz uma leitura muito atenta do Salmo.
E para os que pensam que erudição é sinônimo de aridez espiritual está reservada uma grata surpresa ao ver com que fervor e paixão este expositor das Escrituras entrega sua mensagem, de modo que sentimos a presença do Deus da Palavra do princípio ao fim da mensagem, pois Ele vela pela sua Palavra para a cumprir e torná-la viva e eficaz. Foram preservadas as reações dos primeiros ouvintes na Igreja Evangélica Canaã de Philadelphia, de modo que percebamos a atmosfera contagiante da presença de Deus que envolveu a todos nós.
Que esta mensagem enriqueça sobremodo sua vida.

Pr. Fabiano Ferreira, Ph.D, é professor de hebraico, aramaico e grego bíblicos, como também de teologia, hermenêutica, exegese do AT e do NT, homilética (pregação expositiva), escritor, conferencista internacional e apascenta a Work of Restoration Church of Philadelphia, Estados Unidos.

Wednesday, November 10, 2010

Sermão: Quem Poderá Ficar em Pé? (Ap 6 e 7) Brasil - Novembro de 2007

Quem Poderá Ficar em Pé? 
(Apocalipse 6 e 7)
Pr. Fabiano Ferreira



Quem Poderá Ficar em Pé? from FABIANO FERREIRA on Vimeo.

Um Sermão em Apocalipse 6-7 pelo Pr. Fabiano Ferreira, da Igreja em Philadelphia, Estados Unidos, pregado na Igreja em Parada de Lucas, Rio de Janeiro, Brasil, em novembro de 2007. É fornecida, ao final, a proposta de uma visão macroestrutural do livro, seguindo Gregory Beale. Este autor propõe uma estrutura quiástica para o Apocalipse que mostra que a obra é, de fato, produção de um Gênio! Ora, Deus é o autor do livro que contém a Revelação dada a Jesus Cristo que, por sua vez, envia seu anjo representante para dar a conhecer a João. Este último recebe ordem de narrar por escrito o que vê (ouve e) e enviar esta epístola revelatória universal às sete igrejas da Ásia.

Introdução ao Estudo de Apocalipse 6 - Partes 1 a 3

Parte 1 



Parte 2



Parte 3





Aula de Introdução ao estudo de Apocalipse 6, realizada no GRTS - Grace and Restoration Theological Seminary de Philadelphia. Apresentatação do desafio de se pregar em Apocalipse. Incentiva-se a Pregação Expositiva em Apocalipse como a Caminhada do Texto ao Sermão. Elementos de Apocalíptica em termos de Homilética. 


Prof. Fabiano Ferreira, Ph.D.

Friday, November 5, 2010

Casamento de Jason Ferreira e Ellen Silva HOJE 06/11/2010 21:00h (Brasília)

Quero agradecer a todos que assistiram a cerimônia de casamento do meu filho Jason Ferreira com a jovem Ellen Silva, da Igreja em Philadelphia, Pennsylvania, EUA.


Dia: 06/11/2010


Local: Igreja Assembléia de Deus em Philadelphia


2920 Holme Ave
Philadelphia, PA 19136


Horário: 21:00h, horário de Brasília


Horário local: 07:00 PM (Eastern Time)


Celebrante: Pr. Fabiano Ferreira

MEU MICHEL - A CARACTERIZAÇÃO DE ASPECTOS DE ROMANCE

Meu Michel
מיכאל שלי

A caracterização de elementos básicos de um romance dentro da problematização metafórica da realidade israelense através do fluxo de consciência e da deterioração psicológica de um narrador autodiegético




Por

Fabiano Antonio Ferreira
Aluno do Curso Português-Hebraico








Trabalho apresentado na disciplina de Literatura Hebraica III










UFRJ UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
2o Semestre/1999


Aqui está um trabalhinho que apresentei na UFRJ, na disciplina de Literatura Hebraica III, no Segundo Semestre de 1999. Para quem estudou, quer estudar ou gosta de Teoria Literária, aqui está uma abordagem muito interessante que pode ser aplicada não apenas ao romance MEU MICHEL, mas a qualquer outro. A terminologia é um pouco densa para quem não conhece nada do assunto, porém, procurei dar as definições dos termos e fazer suas aplicações.




Meu Michel


A caracterização de elementos básicos de um romance dentro da problematização metafórica da realidade israelense através do fluxo de consciência e da deterioração psicológica de um narrador autodiegético

I - Introdução

        Meu Michel, como romance, deve ser uma forma de narrativa que, embora sem nenhuma relação genética com a epopéia, a ela equivale nos tempos modernos. Contrapõe-se à epopéia, como forma de representação de mundo, pois se volta para o homem como indivíduo, sendo calcado no fluxo de consciência e nas análises psicológicas na forma de ficção-ensaio, desrealizando a realidade.
        Nesta caracterização, mostrarei que Meu Michel possui os elementos estruturadores de um romance, a saber: enredo, personagens, tempo, espaço e ponto de vista da narrativa.

II - O Enredo

        O enredo, também designado de trama ou intriga, é o resultado da ação das personagens, só adquirindo existência através do discurso narrativo, daquele modo especial com que se organizam os acontecimentos.
        O que confere unidade aos elementos da trama é o tema, entendido como idéia comum, que constrói um sentido pela união de elementos mínimos da obra, chamado motivos.
        O tema de Meu Michel se confunde com a problemática das tensas relações entre Jerusalém (metonímia para Israel) e seus inimigos, que culminam, por exemplo, na Guerra do Sinai. O desenvolvimento da deterioração psicológica da personagem Hana Gonen representa uma miniaturização dos conflitos externos de Jerusalém com todas as suas consequências. Hana sofre gradualmente de uma deterioração psicológica que a faz vaguear em Angst (angústia profunda) entre a realidade e o universo quase unipessoal de seus sonhos.
        Meu Michel é a história de Hana Gonen, a esposa de Michel Gonen, um geólogo, que oscila entre a transmissão da cosmovisão sensibilíssima de uma mulher que se refugia em sonhos para suportar a realidade e a cosmovisão matemática, calculista e gélida de um cientista. Hana tem sua interioridade invadida por forças que a afugentam da realidade, arrebatando-a para o mundo recriado de seus sonhos. Seu marido é imperturbável, tranqüilo, como ela mesma observa. Isto reforça sua Angst, de modo que a fuga é inevitável, principalmente quando chega a guerra.
        Os destroços da desintegração psicológica de Hana têm como macrocosmo as conseqüências da guerra, e é trabalhado pelo autor do romance, Amos Oz, de um modo inteligente e magistral. Há uma impregnação mútua relacionando o mundo de Hana e Jerusalém. Hana e Michel são a essência tipológica dos dois modos extremos de como a realidade israelense pode ser encarada, sensível ou insensivelmente, pois a guerra é um constante devir.
        O refúgio de Hana no mundo dos sonhos pode ser encarado como a procura da possibilidade de um posicionamento dialético,  pode ser equiparada à procura da terceira margem do rio pelo personagem de Guimarães Rosa. Por conseguinte, tensões, distorções, conflitos e contradições permeiam o mundo em desmoronamento de Hana Gonen, reproduzindo metaforicamente o macrocosmo referente, a realidade Israelense, de maneira individualizada e personificada.
        A ausência de desenvolvimento de relações interpessoais autênticas por Hana dentro da estrutura da diegese é, por parte do Autor, uma opção bastante funcional e de grande eficácia ideológica, pois é um forte indicador textual não só da impossibilidade de solução do desmoronamento psicológico de Hana, como também da questão dos temíveis e constantes conflitos entre Jerusalém e seus inimigos ou pseudo-amigos.   
        Além dos fatos que fazem progredir vagarosamente a diegese, Meu Michel apresenta ainda descrições, com as quais se representam personagens, objetos, espaço... e que assumem, muitas vezes, uma função diegética importante, quando se tornam imprescindíveis, tendo em vista o grande investimento do romancista na relação entre o espaço físico (modificado pela visão deformada e fantasmagórica de Hana) e o humano (frustrador na realidade e idealizado em seus sonhos como subserviente ao seu caráter possessivo e dominador).
       
III - As Personagens

        As personagens funcionam como agentes da narrativa. Isto porque depende delas o sentidos das ações que compõem a trama.
        Em sua ficcionalidade, a personagem guarda sempre uma dimensão psicológica, moral e sociológica. É praticamente impossível ignorar essas dimensões sem reduzir a abordagem da personagem a um esquema meramente funcional.
        Destacam-se do elenco de personagens de um romance o narrador e o narratário. O primeiro jamais poderá ser confundido com o Autor; é já uma criação deste e, portanto, elemento de ficção. Trata-se o segundo do receptor da narrativa, aquele a quem, por exemplo, se dirige o narrador. Assim, em Meu Michel, podemos citar Hana como narradora, e Michel como narratário. O leitor, ainda quando não identificado na narrativa, mas presumível pelos esclarecimentos de que o narrador lança mão no decorrer da narrativa, pode ser denominado como narratário extradiegético.
        Por outro lado, quando o narratário participa da narrativa como personagem concreta (interveniente na trama como Michel ou apenas narratário como os pais de Michel e os de Hana), podemos designá-lo como narratário intradiegético.
        Visto que Hana se projeta como protagonista em Meu Michel, impondo-se como narrador autodiegético, sempre a vemos ocupando o centro dos acontecimentos. Ela é retratada minuciosamente, tanto no aspecto físico como no psicológico, e a partir dela se dão a conhecer todas as outras personagens.
        As demais personagens de Meu Michel possuem retratos menos detalhados do que o de Hana, mas compostos de traços suficientemente significativos para transmitir os relacionamentos humanos e até a ideologia da obra. Tão importante quanto caracterizar as personagens é buscar a funcionalidade de seus caracteres.
        Deste modo, a hipersensibilidade de Hana, derivada de uma natural sensibilidade feminina aliada à sua formação em literatura, é sempre contraposta à frieza insensível de seu marido cientista. Toda trama é perpassada por essa contraposição. Nada abala a estrutura psicológica de Michel, nem a guerra e nem mesmo as chantagens frustradas de Hana, cada vez mais propensa ao desabamento psíquico.

IV - O Tempo

        Toda narrativa desenrola-se dentro do fluxo do tempo, tanto no plano da diegese, quanto no do discurso (que conforma a diegese); pois este se organiza como sucessão de palavras e frases, que podem apresentar os fatos cronologicamente ou não.
        São marcas textuais do tempo da diegese as referências a dias, meses, horas, anos, ao ritmo das estações ou a determinada época. Em Meu Michel, a constante referência a datas já nos sugere a extensão temporal da diegese: "Janeiro de 1960"; "no mês de março".
        Meu Michel está eivado de anacronias, pois há o desencontro frequente do desenrolar cronológico da diegese e a sucessão, no discurso, dos acontecimentos. Temos o caso de narrativa in media res, visto que o começo do discurso equivale a uma fase já avançada da diegese: "Escrevo porque pessoas que amei já morreram. Escrevo porque quando era jovem, tinha dentro de mim muita força para amar e, agora, meu poder de amar está morrendo", p. 9.
        O tempo psicológico é construído em inúmeras instâncias do texto, porquanto acontecimentos narrados em várias páginas podem ter ocorrido em poucos minutos, o que nos permite perceber o tempo interior. Para tanto, um dos recursos muito utilizado é o monólogo interior. Este, como todo monólogo, não tem intervenções e se diferencia do monólogo tradicional por apresentar o que há na personagem de mais íntimo, mais próximo do inconsciente e, portanto, sem uma organização lógica.

V - O Espaço

        Também denominado ambiente, cenário ou localização, o espaço é o conjunto de elementos da paisagem exterior (espaço físico) ou interior (espaço psicológico), onde se situam as ações das personagens. É ele imprescindível, pois não funciona apenas como pano de fundo, mas influencia diretamente no desenvolvimento do enredo, unindo-se ao tempo.
        Todos os elementos de Meu Michel estão ligados à Jerusalém, que circunscreve todo o movimento das personagens e serve-lhes como ponto de convergência ou centrifugação, como também centraliza seus pensamentos e sentimentos: "Na minha Jerusalém, inverno é inverno... ", p. 11; "Jerusalém está se espalhando: estradas", p. 179"; "Fomos passar a festa na Galiléia... Longe de Jerusalém. Longe das ruelas", p. 182.

VI - O Ponto de Vista
       
        Por ponto de vista, foco narrativo ou focalização, entendemos a relação entre o narrador e o universo diegético e ainda entre o narrador e o narratário.
        Temos em Meu Michel focalização homodiegética, em que o narrador participa como agente da diegese romanesca: "Meu marido Michel Gonen me dedicou seu primeiro artigo, publicado em uma revista científica",  p. 92.
        Há focalização interna, quando o narrador apresenta o que se passa na interioridade das personagens: "Michel abriu a boca espantado, começou a dizer algo, hesitou e desistiu... Meu marido está convicto de que ele e seu filho estão destinados a serem amigos de corpo e alma", p. 67.
        Constatamos também a presença de focalização onisciente, quando o narrador conhece tudo em relação às personagens e aos eventos: "Por isso, toda noite, Michel ia, arrumado e limpo, para o quarto de Yardena, no conjunto residencial dos estudantes. Confesso que foi tudo muito ridículo. No fundo eu sempre esperei por isso. Não me alarmei", p. 187.
        Por último, detectamos o caso da focalização estereoscópica, quando o mesmo acontecimento recebe diferentes interpretações: "  ---- Mãos frias e testa febril. Você está doente (Hana)... Na cozinha preparou um chá com leite, adoçando-o com duas colherinhas de mel. Não pude engolir. Minha garganta ardia com fogo. Era uma dor nova. Alegrei-me com a nova dor à medida que ela aumentava", p. 131.
        Em suma, a focalização em Meu Michel é: homodiegética, interna, onisciente e estereoscópica.

VI - Conclusão

        Deste modo, concluo a caracterização de Meu Michel como romance, tendo demonstrado que ele possui todos os elementos estruturadores de um romance, a saber: enredo, personagens, tempo, espaço e ponto de vista da narrativa.
        Seguindo a estrutura da diegese romanesca, em seu todo é explorada a manifestação livre do fluxo incontrolável de consciência de Hana, a narradora homodiegética, que naufraga no mar de inconsciência e ilogicidade ao fim da diegese. De fato, temos em Meu Michel uma problematização metafórica da realidade israelense através do fluxo de consciência e da deterioração psicológica de um narrador autodiegético, Hana Gonen. No desfecho, sua Angst assume proporções tão insuportáveis, retratadas pelo mergulho inexorável de Hana no mundo dos sonhos, pois pode ser que surja ali a condição de alívio da dor imposta pela implacável realidade.
        Ao término da história, o mundo dos sonhos de Hana invade e domina a realidade, sendo tal invasão caracterizada pela sobreposição de tempo e espaço, gerando um verdadeiro caos. Hana sucumbe à deterioração de sua psique, pois mesmo no mundo dos sonhos percebe-se a total ilogicidade, falta de ordem e de controle, vazada por antíteses e contradições: "A umidade do orvalho e do vento. E então, de repente e não de repente, trovejará o brilho de uma explosão surda", p. 190.
        Finalmente, a guerra, a frustração e a "traição" --- toda a dor do mundo real --- conseguem afugentá-la definitivamente da realidade. E seu último vaticínio, ou delírio, prediz: "E sobre espaços amplos descerá uma fria paz", p. 190.




Bibliografia

DE AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel. Teoria da  Li-
        teratura. Coimbra: Livraria Almedina, 1988, 817 pp.
MOISÉS, Massaud. A criação literária - prosa. São
        Paulo: Melhoramentos, 1979.
OZ, Amos. Meu Michel. São Paulo: Conpanhia das Letras, 1999.